Juli 04, 2006

Chuva de palavras

"A vontade que eu tenho é de fazer chover torrencialmente as palavras que cismam em ficar presas na minha garganta. Palavras as quais tomaram a forma de imensas, pesadas e cinzas nuvens em cima da minha cabeça e alagaram meus pensamentos. Esse clima nublado não me larga. Meu corpo se arrepia com a gélida corrente de ar. Calafrios constantes, medo da escuridão total. Apenas uma coisa ainda não morreu (o essencial): a esperança de voltar a ver os raios do sol enaltecendo o colorido das flores."

Evelyn Souza


Poderia começar esse texto como sempre faço. Eu o encheria de metáforas e de reflexões que nem entendo. Mas decidi enveredar por uma metalinguagem instrutiva. Para mim, as palavras são o rastro “imperfeito” daquilo que sentimos no contato com a nossa realidade.Por isso, a Evelyn não conseguirá “tirá-las” da garganta. Mesmo que tenha vontade, precisa deixar que a vida “fale” por ela. Veja, então, como estou voltando às minhas metáforas..rsrsSomos ingênuos ao acreditar que controlamos as palavras. Elas adquirem formas, sentimentos e nos pressionam até o momento em que não as suportamos em nossas gargantas.Sentimos o medo de nos revelarmos na escrita ou na fala. As palavras desafiam a humanidade desde os tempos bíblicos.Agora, posso fazer essa experiência com o leitor. Prometi a Evelyn que escreveria esse texto para demonstrar a riqueza incutida em suas palavras. E esses parágrafos surgem com uma dificuldade muito maior pra mim.Porque a nossa vontade, sempre, é de que o essencial permaneça em todas ações que cometemos. Nele, expressamos a nossa personalidade, um pouco do que pensamos e damos sentido à vida.Ele sempre está lá. Até mesmo na foto da Evelyn que escolhi para ilustrar esse discurso. Se focalizarmos o seu olhar, veremos uma “esperança de voltar a ver os raios do sol enaltecendo o colorido das flores”.Entretanto, há muito mais do que isso. Existe alguém que contribui para o movimento do Universo. Uma pessoa que sofre, ama, ri, salta, etc...O que tento, nesse momento, é procurar modos simples de se falar sobre a energia transmitida por ela. E claro que o meu intuito não é somente elogiar, mas não posso criticar (negativamente) um texto que tem vida. Por isso, uso palavras tão inexprimíveis quanto o quê percebemos em calafrios constantes.Ficamos taciturnos diante de algo maior do que a gente. O nosso ser... Assim, temos vontade de capturar pelas palavras o que é indizível. Daí a minha dificuldade nesse texto. Nunca havia me deparado com um desafio tão diferente.Após ler o que a Evelyn escreveu, fui convidado a encará-lo. Arrependi-me, entretanto, por não conseguir escrever algo à altura. Portanto, tenho que salvá-lo em minha conclusão.E digo, finalmente, para a minha amiga Evelyn, que não conseguiria mesmo expressar tudo o que sinto por ela, embora a conheça muito pouco pelas breves conversas que trocamos. A vida é assim. Temos vontade de fazer chover torrencialmente as palavras sobre alguém que a gente adora.

Keine Kommentare: