August 02, 2006

No farfalhar das folhas

O vento sopra lá fora no farfalhar das árvores. Um sopro barulhento que vem trazer notícias de um novo tempo. Fico olhando tudo e esperando que a natureza venha me avisar o que aconteceu. Escrever já não pode ser considerado um exercício. Há muito mais entre um papel e um lápis do que o leitor inocente possa pensar. Imagine, então, neste blog.
A minha última viagem no final de semana me fez pensar muito nisso. O Homem precisa tornar a sua vida em eternidade, de alguma forma. E cada um encontra o seu jeito para concluir tal empreendimento. Temos medo da fugacidade das coisas. Lavoisier estava simplesmente em meus pensamentos: Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.
Louco, ou não, refletia quando passeva por Penedo. Um lugar tão bonito, mas tombado pelo desejo do Homem. Tudo era aproveitado pelo turismo. Até um passeio que fizemos no trem custava uns cinco reais. Não importava a todos que aquela máquina não passasse de um mini trator customizado. A mim, só importava aquela paisagem. Revigorei-me a cada olhar pela terra que já foi colônia finlandesa há séculos atrás. Comentei com os amigos, que fiz na viagem, a seguinte conclusão: Havia muita gente e pouca coisa para aproveitar.

Depois, partimos para Bananal, uma cidade no interior de São Paulo. Ela era o inverso do Penedo. Ficamos surpresos com o deserto que encontramos. Mais tarde, sabemos onde todos os habitantes daquele lugar estavam. A Igreja era o "point" de lá. Pensei comigo:-Aqui se privilegia o espírito. Havia pouca gente e muita coisa para aproveitar. Os preços eram mais baratos! Mesmo assim, preferi não profanar a tradição local. Fiquei mais tempo na pousada refletindo sobre a viagem até ali. Conversei muito com um amigo sobre assuntos variados. Estava fortalecendo o espírito.

No outro dia, o domingo, fomos para uma Fazenda em Barra do Piraí. Ela tinha a sua estrutura preservada pelos donos. Tudo nos remetia ao período cafeeiro e escravagista do nosso país. Conhecemos a senzala, a roda do engelho, o casarão e outros objetos que deviam ter muitos anos de história. Percebi a materialidade e a espiritualidade se reencontrarem. Pude ouvir o grito de alguns escravos no objetos de tortura expostos lá. Infelizmente, a crueldade também virou comércio. Mas não podemos, claro, desprezar a nossa tradição. O nosso passado pífio que atravessa a atualidade. Muita coisa não mudou desde 1860..

Entretanto, tentei retirar alguma mensagem disso tudo. Talvez a natureza quisesse me mostrar a capacidade dupla do homem de destruir e criar. Ele tenta eternizar a vida nesse processo. Também, estaria tentando reconciliar a materialidade a seu espírito. Isso seria uma luta em vão? Não sei. Um certeza ficou. Nada se perdeu, nada se criou e se transformou em uma energia conjunta, chamada natureza. Precisamos buscá-la no farfalhar das "folhas".

1 Kommentar:

Vanessa Anacleto hat gesagt…

Creio que este é nosso grande desafio, confrontar matéria e espírito lucidamente sem perder a noção da realidade. Sei lá :-). Meu blog está completando um ano este mês e como vc fez parte dele, quero agradecer.

abraço.