Mai 08, 2007

Ciclo de Crônicas: Conversa de Bar (Parte 2): O amor não se aprende!

—Pare de anotar, garoto! Olhou com fúria para mim. O olhar de Fausto queimava numa cor nunca antes vista. Parecia entender a sua amargura, mas preferi permanecer onde estava. Foi aí que decidi falar:
—Pô..um dia irei publicar essa conversa. Mas, por favor, não tenha ódio de mim.
Então, ele sorriu e desdenhou do que havia dito: —Pode fazer o que quiser, você ainda tem muito a “desaprender”. O ódio também é um tipo de amor.
Nesse momento, o silêncio pairou no ambiente. Todos ficaram pasmos com tamanha sapiência de Fausto e pareciam não entender aquela resposta tão perfeitamente lacunar. Alguns pensaram besteira, enquanto os outros souberam entender um pouco do que se passava naquela conversa.
Um outro mote estava em questão: O amor. De fundo, a vitrola tocava “don’t speak” do “No doubt” como uma trilha animada para o rumo em que os diálogos iriam tomar. Para mim, tudo aquilo me dava a impressão de que presenciava um momento único na história da humanidade. Aliás, não é todo dia que podemos ver um debate sobre as mulheres e o amor por homens que realmente vivem.
Pois, mesmo que acredite na literatura, pensava que alguns escritores eram apenas pessoas fracassadas no amor. Mas Fausto me mostrava algo diferente. Amar não se aprende amando. Isso Drummond não deixou explícito em sua obra.
—Ei, garoto? É disso que estou lhe falando. Se fosse uma mulher, teria você nas minhas mãos agora. Disse com ironia e completou: — Em que estava pensando? Ficou muito tempo em outro lugar. Elas fazem isso com a gente. Falam que o amor se sente, mas nos analisam em busca de amar. Tentam aprender de forma errada o amor.
Preferi, então, ficar calado. Não poderia interromper essa conversa, embora tivesse muito a contribuir. O meu papel era o de ser narrador e não, personagem. Mas não podemos, às vezes, controlar os nossos atos na vida...principalmente, quando estamos envolvidos no que (ou em quem) gostamos.
—Cara, deixa ele. Um dia, seremos lidos. Dizia Felipe, o mais entusiasta de todos. —Não esqueça do cerne do nosso assunto. Elas confudem o amor com carros, dinheiro, bom prestígio.
—Nem todas! Falou João convicto. —Algumas nos querem presos em uma estante. O homem perfeito é o que obedece, paga a conta e desiste dos próprios gostos para que a vida delas possa ser adquirida. Daí a enorme quantidade de vagabundos ganharem o coração das mais lindas, mais sinceras e menos espertas. Os músicos sabem do que digo.
—Você está sabendo demais! Gritou o Felipe com ironia.
Mas Rui sentiu vontade de falar. E interrompeu a todos com um soco na mesa. Com lágrimas no olhos, começou a falar:
—Pessoal, acho que irão esquecer tudo isso quando lhes contar a minha história com a Clair. Só concordo que o amor não se aprende. Nós podemos vivê-lo, se o destino também não conspirar contra.
Mulheres, amor e destino. Onde iremos parar? Começava a entender porque viver é muito difícil. Bom...vou anotar...

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