Mai 12, 2007

Ciclo de Crônicas:Conversa de Bar (parte 3):Destino?

Eram quatro horas da madrugada. Estávamos comovidos com o olhar triste de Rui. Naquele momento, começou a chover muito lá fora. Fenômeno natural, sem controle. E a nossa conversa encaminhava para isso. Pela primeira vez, porém, uma história ainda mais real se unia à discussão...
—Quero dizer a vocês que decidi fazer algo diferente aqui. As lágrimas escorriam dos olhos de Rui. Algo de grave havia acontecido, porque homens relutam para mostrar a própria sensibilidade nos dias atuais.
Talvez seja por isso que as relações entre os casais se tornam cada vez mais grotescas, embora a Sociedade diga que não há espaço para ideais machistas. Ah...infelizmente, sim.
—Você! Apontou o dedo para mim.
—O que foi ? Só estou anotando...
—Por isso que será o mediador das questões! Transformarei a minha história em exemplo a ser discutido. E faço isso porque sei que será “quase” impossível de rever a Clara.
—Por quê? Levantou o Fausto. — O que aconteceu de tão grave filho?
—Não aconteceu..Pelo menos a meu favor. Vocês podem me interromper com perguntas, porque não há ninguém certo aqui.
Todos, inclusive eu, calaram-se para ouvir...
—Conheci a Clara no Jornal Überman, onde todos os envolvidos trabalhavam. Ela ficava responsável pela seção de moda, enquanto eu ficava pela parte das crônicas.
Descobri que ele era escritor. Achei muito legal. Talvez, pedisse umas dicas depois. Ainda preciso melhorar muito.
—Da primeira vez que a vi, apaixonei me pelo seu charme e queria conhecê-la melhor. Aquele sorriso me encantava demais. Ah..o amor à primeira vista..nem disso nós falamos!
Interrompeu Fausto:
—Como você pode se apaixonar por alguém só pelo olhar? Taí o motivo do seu erro!
—Entendo você, mas como disse queria apenas conhecê-la melhor. O que disse sobre paixão está longe do que todo mundo pensa que é. Sou honesto com os meus sentimentos. Posso ser massacrado por ser assim? Por que não tentar conhecer alguém que lhe encanta por gestos mínimos? Porque a Vida de verdade se realiza quando entendemos que a simplicidade é a mãe da felicidade.
Então, entrou Felipe:
—Simples, então! Esquece essa mulher que não lhe ama!
Pela primeira vez, o Rui sorriu:
—Também queria que fosse assim...Mas ela mesma não me deixa esquecer.
Disse João:
—Nossa..o negócio é feio! Pode continuar.
Ouvíamos atentos, então...
—Tínhamos um amigo em comum: O Otto. Ele nos apresentou. Mais tarde, quis ser o cupido, mas acho que foi o maior erro da minha vida.
—Ué, amigo sempre ajuda né? Disse o João.
—Também pensava. Mas não sabia que existia o Marcos na história. E ele é a pessoa que contribuiu ainda mais para que o “destino” se concretizasse..rs Por isso, adianto-me para dizer a vocês. Só me interrompam, agora, quando for necessário.
—Agora? Ironizou o Felipe.
—Bom..voltando ao que dizia... Ficou muito sério o nosso amigo Rui. —A Clara ainda amava o Marcos e esse gostava de tê-la aos seus pés. Por minha vez, acreditava que podia dizer a ela que tudo não passava de brincadeira daquele cara inescrupuloso. Ele ainda dava esperanças a ela.
—O Otto, por sua vez, ficava neutro na história. Não queria perder a amizade de ninguém.
—Acho que esse cara queria era ter um colo. Homem carete é uma merda! Disse o João.
—Claro. Mas o Otto não queria perder a amizade de ambos. E, pra piorar, esse bobo romântico, que vos fala, entrava na história.
—Comecei a mostrar a Clara ( a qual havia chamado de Clair) com palavras e gestos que a farsa de Marcos faria muito mal a ela. Independente de minha amizade ou não. Não gosto de ver ninguém triste.
—Mas Marcos soube por Otto que eu a amava. Enfim, tava traçado o destino! Por amor, as mulheres ficam cegas e os homens, muito astutos.
Esse verso foi ótimo! Pensava comigo...
—Mais tarde, outros se uniram a essa história. O igor, cara que traiu a minha confiança, e o Dito. O último é o músico mais esperto que conheci até hoje.
—Igor era novato no jornal. Escrevia muito bem e tinha um futuro promissor. Mas, rapidamente, uniu-se ao Otto, que adorava humilha-lho com apelidos ridículos, e ao Marcos. O dito apareceu no momento e na hora certa, apenas isso.
—Por querer ajudar, decidi dizer ao Igor que aquelas piadas jocosas iram denegrir a imagem dele. Afinal, isso conta muito no ambiente como o nosso, cercado de informação.
—Mas não contava com a falsa informação! O Igor conto ao Marcos o que havia falado e que, por sua vez, contou ao Otto.
—Isso tudo chegou aos ouvidos da Clara, não? Disse o Fausto, sempre lúcido em seus comentários.
—Sim. E foi daí pra pior. Todos começaram a me odiar! A pior forma de amar. E isso porque um tal de Marcos decidiu espalhar para o meu ambiente de trabalho que era uma pessoa fofoqueira, que semeava discórdia.
—Parece até cômico. Você? Tive que me intrometer na conversa.
—E como tudo terminou? Gritou o João.
—Você ainda fala com a Clara? Perguntou o Felipe.
—Pessoal..infelizmente..não. Hoje ela namora o Dito, simplesmente o cara que não tinha nada a ver com a história. Ainda desconfio de que o Marcos tenha o ajudado a conquistar a Clara, porque eles tinham uma relação de amizade muito mais antiga. Mas não entendo porque ela nunca quis conversar comigo sobre tudo aquilo. Por isso que digo que ela não me deixa esquecê-la. Tudo poderia ser esclarecido com uma simples conversa.
—E ela não quis conversar com vc? Mais uma vez o Felipe perguntava.
—Não..para ela, ainda sou um idiota romântico que não consegui ser mais do que um medíocre amigo. Dizia que só conseguia me ver como amigo. E taí uma coisa de que as mulheres nunca explicam! Daonde tiram essa mania de mandar no coração..Dizer quem pode ser amigo ou não..Ela nem me conheceu direito. Só ouviu o que os outros falavam! Às vezes, acho que ela ouviu muito os outros. E onde a Clara estava naquela momento? Se alguém dissesse a ela que era uma cara legal, único e autêntico, o que (modéstia a parte) é verdade. Sorriu lentamente. — Teria mais sorte. Eu a conheci na hora errada.
—Por meu orgulho, preferi afastá-la de mim para não sofrer. Falei muita besteira sem pensar. Mas queria, hoje, tê-la do meu lado. Mesmo que fosse por amizade.
—Ela gosta do Dito? Disse o João.
—Não sei, mas deve ter “aprendido” a gostar.
—Então, não gosta. Disse o Fausto.
—Não sei..Só o “destino” pode dizer. Afinal, fui empurrado para longe de quem mais amei na minha vida.
O bar ficou em silêncio. Rui estava certo. Nunca tinha presenciado, pelo menos, um caso assim em toda a minha vida. A única certeza era a de que Marcos foi um cara sem escrúpulos em todos os momentos e que parecia nunca ter amado alguém de verdade. Foram nessas horas que pensei: —Por que a vida não ajuda quem merece? A união podia nem acontecer, mas eram bons sentimentos. Mas a fofoca, a crueldade e a mediocridade prevaleceu! Foi o destino?

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