Mai 27, 2007

Ciclo de Crônicas: Conversa de Bar (Parte 4): Amar conjugado no imperfeito

— Vou fechar o bar. Tá tarde demais. São cinco horas. — Dizia Fausto que olhava o relógio.
O clima não estava bom, depois da conversa anterior. O que falar sobre o orgulho de Clara que não fala mais com o Rui? Nada. E essa era a opinião de todos. Fiquei intrigado com a falta de compreensão entre todos naquela história. Tinha a certeza de que romances perfeitos não existiam, mas o Felipe interrompeu o meu pensamento:
— Espere aí, Fausto! Já ficamos muito tempo e ainda nem falei. A chuva já acabou.
— Essa juventude não sabe o que fala. — Respondeu o João.
— Estou longe de minha gata, mas ela gosta de mim. —Continuou o Felipe.
— Era mais fácil ter fechado o bar... —Sorria convicto o Fausto. — A Sociedade conjuga o verbo “amar” no imperfeito. — declarava com enorme sabedoria.
A rádio tocava “with arms wide open”, do Creed. Ela retratava o que falta no nosso cotidiano. Receber o Outro de braços bem abertos. E não, reduzi-lo a um mero objeto. Tenho medo das relações sociais de nosso século. Mas a alegria de Felipe podia demonstrar que nada estava perdido. Assim, nós o ouvíamos:
— Conheci a Fernanda há pouco tempo. E hoje mantemos contato pela net. Apesar da distância, nos sentimos muito próximos. E conto os dias para encontrar o meu amor.
— Impossível. A gente tá sem sorte! Dizia o João, no auge de seu ceticismo e de sua experiência. — Você ainda acredita que pode encontrar essa menina? Qual é a distância entre os dois?
— Muito grande. Mas ainda acredito. Quando se ama não podemos desistir fácil. Afinal, é vida é assim.
— Algo é impossível até que alguém prove o contrário! — Veio Rui com as suas frases de efeito.
— Olha garoto, vou te dizer uma coisa. Não há amor que suporte a distância. Só Platão acreditava nisso. Talvez esteja gostando dela ainda mais porque ainda não se viram de novo. Os jovens se acostumaram a amar pela metade. Parece uma visão pessimista minha, mas o que tenho visto mesmo.
— Concordo com Fausto. Tive várias mulheres e nunca fiquei tão longe dela por muito tempo. Amor é sentimento. Preciso sentir, não acha? E o mundo atual desses troços aí, fez o contrário. A traição virou algo comum e a mentira entre os amantes também. Haja paciência hein? — Completou o João.
— Mas temos bastante em comum. Já mandei muitos recados para ela e tal... — Felipe falava com um pouco de receio.
— O que queríamos dizer é que você precisa encontrá-la para saber se ela o ama de verdade. Hoje a verdade não existe mais. Não comemoramos nem o dia da mentira mais. Você já percebeu isso? — Ressurgia o magoado Rui.
— E completo garoto...Não há garantia de que ela ainda o ame. Só se você encontrar ela. Ás vezes, até próximos, podemos ficar distantes.
— Sim. Finalmente o João mostrou que é consciente. — Fausto ria, enquanto falava. — Conheço casais que preferem viver juntos (e tristes) do que sozinhos, mas felizes. OU SEJA, quando amamos alguém, devemos buscar a harmonia, o que é perfeito, porque todos nós somos imperfeitos. Mas, como disse, a moda é conjugar o amar no imperfeito.
— Tirando a parada do consciente, gostei do que o Fausto falou.
— Lembre-se de que você me deve João. Brincou o dono do Bar.
— É...penso nisso também. Mas sempre ligo e mandou mensagem para ela. Ela me diz que me ama. Não consegue viver sem mim. Eu também correspondo.
— O amor é um sentimento abstrato que precisa se concretizar a dois. Fecha a minha conta, Fausto.
E Rui foi embora. O nosso grupo ficou estático depois daquela atitude. O que mais irá acontecer?

Keine Kommentare: